Capítulo 8: Sentimento de Rejeição.
Mais uma vez as coisas sumiram e reapareceram, através de minha embaçada visão que se corrigia aos poucos e dos meus 5 sentidos que pareciam ter ido dar uma volta mas já tinham voltado, voltei a perceber esse mundo novo ao meu redor. Antes de conseguir entender claramente o que estava ao meu redor, o sentido da audição me permitiu escutar um "ah merda" da minha irmã. Estávamos na escola. Tudo ali parecia igual, as mesas nós seus lugares, a lousa e até o giz que sempre ia parar no chão próximo a lousa de alguma forma. Os alunos também estavam ali, mas em versões petrificadas, similares a estátuas quebradiças e antigas.
- Ramona?
Minha irmã estava ao meu lado encarando isso tudo com a mesma confusão que eu. Então, enquanto sacudia a mão na frente de uma das estátuas para ver se encontrava sinal de vida ela respondeu:
- Odeio quando os "adentrados" me levam para seus tempos de escola.
Eu procurei por uma versão petrificada de mim mesmo por ali mas não achei. Também não achei Alice ou André por ali. Investiguei algumas das outras estátuas e notei que aquela não era nossa sala, não reconheci nenhuma daquelas pessoas.
- Por que? Por que é tão ruim voltar para os tempos de escola dos "adentrados"?
- Porque normalmente é nessa época onde se encontram a maioria dos traumas.
Fiquei confuso e voltei meus olhos para minha irmã. Ela se sentou em uma daquelas mesas e ficou encarando a entrada da sala por um tempo.
- Eu sabia que o ensino brasileiro era bem ruim mas...
- Esses traumas não tem muito haver com o governo. Impostos são um trauma da vida adulta.
Ramona me pediu para sentar do seu lado com um gesto, eu estava curioso e obedeci automaticamente.
- O problema é a juventude.
Antes que eu pudesse continuar questionando, uma Rosa sorridente e muito mais nova veio entrando na sala de aula. Ela saltitava com desenhos lotados de glitter nas mãos, seu cabelo comprido e loiro saltava e pairava pela pele branca do rosto e as sardas que aparentemente ela tem desde pequena. Quando chegou a mesa do diretor, ela tirou os fios soltos de cabelo do rosto e os jogou para trás desajeitada. Empurrou o desenho ao professor esperando clara aprovação e teve que esperar por algum tempo até que aquele adulto assustador se manifestasse. Ouvimos uma voz que ecoava pelas paredes da sala, era assombrosa e dizia duas sílabas simples.
-Tá, tá....
As paredes racharam um pouco e vimos a garotinha correr alegre para seu lugar na cadeira. Quando nos demos conta, não estávamos mais na escola. Ao contrário das outras transições que me confundiam e deixavam zonzo, dessa vez a mudança ocorreu em segundos, eu diria que foi num piscar de olhos.
- O que está acontecendo?
- Eu diria que essa não será uma noite nada fácil para sua amiga.
Olhei ao meu redor e lá encontrei um tapete marrom de pele de algum animal no chão. Tinha quadros bonitos nas paredes e uma mulher petrificada como os alunos de antes que se sentava numa grande e poderosa mesa que se estendia de canto a canto nessa nova sala. Rosa estava sentada no sofá a frente, balançava os pés pendurados para frente e para trás como qualquer criança inquieta. Em suas mãos, tinha mais um desenho que ela encarava em silêncio como se planejasse cuidadosamente algo a seguir. Cheguei perto e vi naquele papel a imagem de um dragão.
- O que é, filha?
A voz distorcida disse. As paredes ficaram ainda mais quebradiças e nós sentimos um terremoto que se embrulhava dentro dos nossos pés. Por pouco não caímos. A pequena Rosa se levantou, dessa vez evitava balançar muito o desenho e não saltitava, talvez por que tivesse cansada de pular, talvez porque queria que o desenho parecesse mais bonito e mais interessante dessa vez. Levou até a mesa, empolgada como sempre mas se esforçando para se conter, quando chegou a mesa da mãe, dispôs o desenho próximo de mais do rosto da estátua que se quebrou de vez.
- O que....?
- São memórias muito antigas. Os fatos se perderam, mas...
A sala ao nosso redor quebrou de vez, ficamos soltos em um espaço inteiramente negro onde tudo que tínhamos era um chão para pisar. Vimos Rosa andando livremente por esse novo espaço sem matéria, estava mais velha e não saltitava mais. Tinha um desenho em mãos como sempre, mas não o balançava no ar orgulhosa, Rosa carregava ele entre cadernos escondidos entre os braços e o peito. Segui ela por estar preocupado, quando me aproximei, encontrei uma versão mais antiga minha que foi até lá falar algo. Ele perguntou o que ela carregava ali, e Rosa, seca respondeu: "nada."
- O sentimento de rejeição ficou.
[Continua]
--Créditos--
Autor: Rudigu
Co-Autor: L.Maverick
Divulgado por: Mistérios Nerd
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