Capítulo 7: Arthur, o Matador de Dragões.
Quando o dragão começou a subir a torre, fincando suas enormes garras nas paredes e adquirindo aderência para escalar, as paredes começaram a ameaçar uma queda, descascando tijolo após tijolo, a torre balançava. Lá de cima meu corpo trêmulo mantia-se estagnado, preso a indecisão da minha cabeça que não sabia o que fazer. Se continuasse correndo, o dragão poderia me seguir e ir atrás de Rosa, se eu descesse daria de cara com um dragão que me mataria e iria atrás de Rosa. O dragão continuou subindo, sem poder erguer suas asas naquele estreito espaço, e ainda suficientemente longe para não cogitar cuspir fogo em mim. A esperança veio na forma de um tijolo que caiu direto na minha cabeça, me forçando a olhar para cima e dar de cara com minha irmã.
-Distraia o dragão.
Minha irmã ordenou. Sem muitas explicações ela continuou escalando a torre pelo lado de fora. Deixou para mim deduzir que ela poderia estar usando as frestas entre os tijolos da torre que ficaram maiores devido ao balançar do dragão. Por mais alguns segundos, meu corpo e minha mente continuaram nessa indecisão brutal, que poderia ser quebrada apenas pelo perigo iminente de um jato de fogo. Por sorte, aquele era um dragão muito gentil, e fez o favor de fornecer esse jato de fogo. Num passo, subi as escadas, os degraus balançavam e despencavam um atrás do outro e eu subia desesperadamente, enquanto continuava tentava me acalmar, eu não corria risco nenhum ali, mesmo ofegante, mesmo exaurido, e tremendo, era tudo ilusão, eu poderia me acalmar. Quando, por poucos segundos consegui me livrar de uma queda direto na boca da criatura, percebi que o degraus não se manteriam confiáveis por muito tempo, e que mesmo que se mantessem, Rosa e Ramona estariam lá em cima, não era o melhor lugar para fugir. Tive uma ideia mirabolante quando vi o dragão quase escorregar depois de fincar a garra em um tijolo mal encaixado. Ele não podia voar ali. Dessa vez, um olhar de determinação invadiu meu rosto, meu corpo se sentiu animado. Subi as escadas com mais velocidade. Enquanto subia, vez ou outra puxava os tijolos, soltando-os e minando algumas armadilhas para o dragão. Continuava correndo enquanto o dragão escorregava nos tijolos- armadilha que eu havia preparado. Era possível notar o quão desesperado e irracional a fantasiosa besta ia ficando, cuspindo fogo aleatoriamente com certa frequência, e se debatendo muito. Poucos segundos pareciam uma eternidade, poucos degraus pareciam uma montanha. Eu estava apostando tudo ali, ou o dragão caia e morria, ou ele desabava a torre e nos levava com ele. De repente, senti meus pés queimarem, o fogo que o dragão cuspia não me atingirá diretamente, mas estava esquentando cada tijolo, cada pedra e cada degrau daquela torre. Minha mente queria acordar, Ramona já tinha me dito algumas vezes que quando sentimos dor nos sonhos nossa mente tenta nos livrar disso acordando. Era como a morte, quando morremos em um sonho acordamos automaticamente pelo instintivo medo da morte. Neguei fugir daquele sonho, neguei esse privilégio para mim mesmo. Meus pés queimavam mas não perdiam velocidade, Rosa precisava de mim. Fiquei feliz por aumentar tanto minhas apostas quando o dragão finalmente caiu. Suas garras gastas demais para fincar em rochas, caiu cuspindo fogo até bater no chão.
Quando caiu, não se levantou mais, não se mexeu mais, o dragão estava morto. No entanto, depois de sorrir e me vangloriar para mim mesmo por ter matado um dragão, não demorou para mim perceber que essa na verdade não tinha sido uma jogada muito inteligente. O impacto da queda do gigantesco animal derrubou a torre de vez. Em meio a pedregulhos fumegantes eu caia, era um sentimento estranho. Mesmo que no fundo soubesse que nada daquilo era real, senti uma tristeza profunda, e me despedi dos meus últimos segundos de vida.
Em um piscar de olhos, eu estava naquele campo verde novamente. Deitado, eu sentia a grama úmida nas minhas costas. Meus pés já não sentiam mais nenhuma dor.
- Matar um dragão de primeira não é pra qualquer um em.
Ouvi a voz de Ramona me elogiando, sentei-me num pulo e vi algo estranho. Rosa estava dormindo dentro do próprio sonho, Ramona segurava um relógio de hipnose na frente da garota e o balançava com cuidado.
- Sabe, quando você não tá sendo um chato, ou um obcecado, você até que mostra um lado seu bem talentoso.
Corei um pouco quando Ramona me elogiou, olhei para o horizonte e pude ver a torre caída. Não conseguia acreditar que tinha feito aquilo.
- Então, o que tá fazendo com minha futura noiva aí?
Ramona revirou os olhos e respondeu.
- Hipnose. Você vai aprender a usar isso em breve, é uma ótima ferramenta para sandmans intermediários. Nunca tinha hipnotizado ninguém dentro do seu próprio sonho. Hoje tem sido uma ótima chance de testar coisas novas.
Ramona guardou o relógio e se levantou, deixando Rosa lá. Nós dois estávamos nos sentindo arrogantes, eu por ter matado um dragão, e Ramona por que era naturalmente bem metida. Quebramos a cara quando a projeção dorminhoca de Rosa simplesmente desapareceu, o chão começou a estremecer e o ambiente estava se tornando alguma coisa totalmente diferente.
- Ok, talvez eu tenha me esquecido de mencionar- Ramona dizia enquanto tentávamos acompanhar as mudanças com os olhos- as vezes, as pessoas tem mais de um sonho numa noite.
[Continua]
--Créditos--
Autor: Rudigu
Co-Autor: L.Maverick
Divulgado por: Mistérios Nerd
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