-Onde está? Onde ele está?
Ficava dizendo isso para mim mesmo enquanto procurava o anel, eu sinceramente pensava que isso era culpa da minha irmã, que ela tinha pegado e escondeu em algum lugar.
Após procurar e não achar cogitei acusar ela e exigir que me
entregasse o anel, foi quando vi perto da estante minha mochila pendurada
aberta, quando olhei o anel estava lá, eu devo ter guardado e esquecido, pelo menos eu não tinha acusado minha irmã. Depois dessa gafe minha, eu fiquei procurando algo pra fazer toda hora, as vezes ligava o video game para jogar, mas não me focava e tentava fazer outra coisa, fiquei nesse ciclo bastante tempo.
Era perto das 11 horas da manhã quando comecei a me arrumar pra ir para a escola, eu entrava às 1 hora da tarde e o intervalo era 15h30min, tinha bastante tempo ainda, entretanto alguns amigos haviam me chamado para se reunir antes de entrar na escola e pra aliviar um pouco do stress eu fui.
-Irmã, estou indo, vou me encontrar com o Alex e a Mia.
-Tá, tchau - eu passei bem rápido me despedindo e vi-a tirando o lixo, admito que sorri como se eu fosse superior, ela tinha me chamado de burro mas burro era ela.
Eu geralmente tenho uma boa relação com minha irmã, mas não gosto quando ela fala mal de mim, ela é bem pacífica e quase nunca fala nada negativo pra ninguém, só fala quando é extremamente necessário ou quando a pessoa realmente merecesse muito, por isso que mesmo sendo só a palavra “burro” eu não gostava, porém eu adorava quando o karma aparecia e devolvia algo pra ela.
É você deve está pensando que sou infantil, que coisa boba não? Pois é, tenho que concordar, as vezes sou mesmo infantil, tenho 17 anos com a mente vingativa de 8 anos, com certeza você tem algum amigo ou colega assim, então não me julgue.
Saindo da minha casa eu ouvi o telefone tocando, eu podia muito bem voltar e atender pra ajudar minha irmã, mas quem disse que eu queria?
-Yo Art - logo me encontrei com Alex, ele é um garoto bem... Como posso dizer... Estranho... Irritante... Acho que isso se encaixa bem para ele.
- Eai, cadê a Mia? - o Alex sempre anda bem arrumado e com o cabelo bem cortado, se você olhasse a primeira vista ele parece alguém normal, mas esse livro ai tem muita página que deve ser julgada.
-Deve estar presa em alguma ideia fantasiosa romântica, você sabe que ela não bate bem da cabeça né?
Na verdade quem não bate bem da cabeça é o Alex, mas claro que eu não iria dizer isso para ele.
-O Art, tu vai mesmo se declarar?
-Sim, hoje mesmo, é o dia que formarei o laço eterno com minha amada.
- Cara, conselho de amigo, não faça isso, pior besteira que tu pode fazer...
Óbvio que eu nunca iria escutar esse lunático, se ele diz pra fazer algo eu faço o total oposto, ele sempre está errado.
-Nada me convencerá, será hoje, ponto final.
-Oi oi gente, desculpa a demora - Mia chegou correndo e ofegante, ela é uma garota incrível, anda com o cabelo todo bagunçado com as roupas quase sempre amassadas e mesmo assim sonha com o príncipe encantado, fico orgulhoso dela ser minha amiga.
-Tá tranquilo, vamos pra onde?
-Pra uma Dungeon subir o XP - Ataque especial do Alex, na sua melhor forma, a loucura surpresa.
-Qual é Alex, não confunda a fantasia com realidade - às vezes falar com doido é um pouco... Incômodo...
-Você dentre poucos deveria saber que não é fantasia – Sim, ele se referia ao meu dom.
- Tanto faz, vamos indo Mia, se o Alex quiser ele segue a gente.
-Vamos pra onde?
-Vamos comprar sorvete...
Alex ficou pra trás olhando as montanhas como se tivesse
algo lá, totalmente doido com problema na cabeça, mas logo ele virou pra gente
e nos seguiu, por incrível que pareça algumas garotas olharam com interesse para ele, mas ele não deu bola pra elas, acho que nem sequer percebeu isso.
-Hey A, você vai se declarar hoje né? – "A" era o apelido que Mia me deu, só pra não falar meu nome inteiro.
-Sim, é hoje o dia...
- Você comprou o anel que te recomendei? - quando ela fica entusiasmada você quase não consegue falar.
-Sim, adorei muito sua ideia! Entregar um anel, como que ninguém pensou nisso? Valeu mesmo Mia, você é demais!
Mia deu um grande pulo e me abraçou, ela estava com um sorriso autêntico de felicidade.
-Que bom, que bom, muito bom mesmo, espero um dia encontrar meu príncipe encantado, como será que ele chegará? Num cavalo branco?
-Quem sabe, até onde sabemos ele pode ser o atendente da sorveteria, vai que ele te dá um sorvete de graça...
Quando disse isso os olhos dela brilharam, com muita paixão e surpresa por não ter pensado naquilo.
-Então vamos logo, não posso deixar o príncipe encantado esperando, vou indo na frente A - Mia correu como se não tivesse amanhã, ela era uma pessoa apaixonada por tudo que tem no mundo, e se você disser que ela encontrará o príncipe dela, não duvide que ela pule de um penhasco só pra ter certeza, uma pessoa admirável não?
-Como você é amigo de doido Art? As vezes duvido de seu julgamento, você comprou a ideia dela do anel, que desperdício de dinheiro - logo o Alex me perguntou isso.
-Pois é Alex, nem eu mesmo sei como sou amigo de doido, e por favor, não fale mal do anel...
A gente foi pra sorveteria mais perto da escola, lá é bem legal parece um pouco retrô com balcões de madeira e bancos preso ao piso, sempre é uma decisão difícil quando entro, escolher um sabor novo ou pegar o de sempre que é garantido que é bom, e no final pedimos um sundae como de costume, ficamos um bom tempo até dar meio dia falando sobre o meu plano perfeito, Mia sempre me apoiava, mas o Alex... Meu Deus... Ele era chato e estranho, pior combinação, e se adicionar loucura no meio a fórmula do insuportável estava pronta, mas mesmo sendo um insuportável o Alex de vez em quando falava algo que prestasse.
-Por que você não usa seu dom pra saber se vai dar certo?
-Eu não posso usar quando quero, e também, não quero saber a resposta, quero receber o sim quando pedir pra ela, sem spoilers...
-Cara é vidência, um dom dado pelos deuses e você deixa seu poder adormecido, isso é um desperdício...
-Alex, por favor...
-Um imenso desperdício de seu poder, mas não se preocupe em breve os deuses devolverão meu poder e eu poderei te ajudar, nem que seja destruindo todos os monstros e obstáculos para que você encontre sua mulher.
-Sério cara, do que você está falando?
-Não importa em breve vocês verão meu poder, não se preocupem - lembra quando disse que o Alex era doido? Então, ele está preso num mundo de fantasia, totalmente fora da cachola, parafuso solto...
Mia estava olhando para a janela, e viu um jovem rapaz loiro passando com uma mochila preta, ela logo levantou dizendo:
-É um sinal, ele é meu príncipe.
-Por que tu acha isso? - eu não sabia os critérios que ela usava para avaliar, então é sempre uma incógnita saber o que ela pensa.
-Ele tem a mesma cor da mochila que eu, eu vou atrás dele...
Mia correu pra porta e foi atrás do rapaz, realmente admirável, uma pessoa determinada, ela realmente é uma pessoa... Como posso dizer... Uma pessoa...
-Doida, ela é muito doida Art – agora o Alex interrompia meus pensamentos, mas que pessoa inconveniente, e tem a ousadia de chamar a Mia de doida...
-Vamos embora vai, quero chegar logo na escola...
Nós levantamos da mesa que estávamos e seguimos pra escola, deixamos a mia pra trás, mas ela logo chegaria até a gente, ela sempre fazia isso, achava alguém... Corria... Depois voltava falando "ele não era o príncipe".
Não vou nem te contar a tediosa caminhada até a escola com o Alex, por que sinceramente ele é muito irritante, então vamos pra parte que interessa. A chegada na escola.
Chegamos na escola e eu procurei a Rebecca para aliviar meu pensamento negativo pensando que ela tinha faltado, o Alex ficou falando mas nem sei o que ele disse que sinceramente, não me importa.
Demorou, porém havia encontrado ela, linda como sempre, loira, com um olhar focado e destinado, não irei me prolongar falando dela que se começar eu não termino hoje, mas saiba que ela é perfeita.
O jeito dela é simplesmente majestoso, magnífico, na verdade ela era tudo isso, depois do que ela fez comigo, não sei se consigo perdoar ela, uma verdadeira assassina...
Admito que na época estava muito iludido por ela, a prova definitiva disso era o jeito que olhava as ações dela, quer um exemplo? Pois bem, você pediu.
Teve uma vez que ela estava passando no corredor e um garoto estava passando também, só que ele bloqueou o caminho dela, na hora ela tinha empurrado ele com força e mandou ele nunca mais entrar na frente dela, na época, na minha cabeça ela não era uma pessoa ruim, era uma pessoa obstinada que não deixava nada entrar no seu caminho, nada! Eu continuei pensando assim mesmo depois de ver o garoto chorando e ela dando risada dele, pois é, bem engraçado e divertido não?
-Sei que você vai dizer "Alex, cala a boca" ou algo assim, mas eu irei dizer, você está fazendo uma grande besteira, você será humilhado na frente da escola inteira.
-Cala a boca Alex, não pedi sua opinião... – melhor reação para o segundo alerta.
Alex quando ouviu isso balançou a cabeça negativamente, o olhar dele parecia que dizia "quando chegar a hora, irei dizer que avisei".
Eu olhava pro Alex enquanto pensava "esse cara é doido e lunático", mas do nada uma súbita dor de cabeça e tontura tomou conta do meu corpo, Alex viu que eu estava cambaleando e me segurou para não cair, foi então que meu dom deu as caras, e pra minha sorte não foi um aviso da merda que estava fazendo.
Algumas imagens surgiram na minha cabeça quando Alex me tocou, eu me lembro de ter visto um relógio digital escrito "11:40, Quinta-feira", me lembro de ter visto o Alex me cumprimentando assim que sai de casa, e que ele estava atravessando a rua sem olhar, foi nesse momento que ouvi um carro freando e uma moça gritando como se alguém tivesse sido atropelado, não foi nada muito claro, o que era incomum, isso foi um episódio da minha vidência, minha vidência sempre foi bem clara e lúcida, dessa vez foi bem estranha e apagada, em pouco tempo a dor de cabeça e tontura passou.
-Você está bem Art, é a vidência? - ele parecia preocupado como se fosse outra coisa, as vezes ele era bem neurótico, uma simples dor de cabeça vira motivo de preocupação para ele
-É, foi.
-Faz isso comigo não, quase que tenho ataque cardíaco cara – apesar de ser bem chato Alex se preocupava com todo mundo a sua volta, essa é uma virtude que esqueço que ele tem.
-Larga de ser besta Alex, relaxa eu tô bem.
-Tá, mas amanhã vou te buscar, se você estiver tonto te levo no médico, não posso deixar um amigo andar sozinho assim.
-Para cara, relaxa, inclusive amanhã é que dia?
-12.
-Não de número, de nome da semana.
-Ah, então explica né, amanhã é quinta.
-Então você não pode me buscar amanhã, se você for será atropelado, foi isso que vi na vidência.
-Que? Tá falando sério? – ele sabia como meu dom funcionava, então era bem fácil dele acreditar em mim.
-100%.
-Então vou pedir pra Mia ir
...
Ele ficou enchendo o saco pra alguém me buscar no dia seguinte, e eu acabei concordando com a Mia me buscar, apesar de achar uma tolice, não foi eu que ia ser atropelado.
Mas não importa, o grande dia chegou, com muita demora 2 horas e meia se passaram por 5 horas, o relógio não andava por nada, fazia 10 coisas e só passava 2 segundos, com muito sacrifício e nervosismo o sinal do intervalo tocou, chegou à grade hora, o grande momento, a hora da declaração, o instante que irei receber meu sim, era isso que pensava, mas um sim ou um não era simples demais, uma humilhação era bem mais adequado para alguém do porte da Rebecca, foi então que levantei e fui em direção a ela, logo no início do intervalo, eu toquei levemente o ombro dela duas vezes e disse:
-Oi, Rebecca...
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