Onde eu tinha parado mesmo? Ah sim, quando fui falar com a Rebecca... Que momento infeliz...
Como eu dizia, o sinal tinha tocado pro intervalo e eu super
feliz fui em direção dela, claro que com a bagunça das pessoas levantando e correndo eu me
atrasei um pouco, o nervosismo também não ajudou, o coração parecia que ia
sair pela minha boca, o de sempre que você já deve ter visto em filmes, assim eu não faço um monólogo, mas
nada supera o momento que andei pra fora da sala, dei uma pequena corridinha
pra alcançar Rebecca e suas amiga e finalmente toquei o ombro dela, é... Creio que
estou exagerando quando falo ”toquei o ombro”, a pressão psicológica que estava
sentindo era tanta que meio que dei um cutucão bem forte nela, ela como de costume tinha ido até a cantina da escola e pegado um suco, e quando cutuquei-a meio que derrubei
um pouco de suco, mas... Bem pouquinho, nem dava pra notar que a roupa dela
estava molhada... E... Um pouco do tênis também... E... Da saia...
-Oi, Rebecca... T-tudo bem?
-Olha o que você fez menino! Você não presta atenção não!?
-D-desculpa, não foi porque eu quis, eu só queria te dizer uma coisa...
Já aconteceu com você quando você quer muito algo e se foca
em conseguir que acaba ficando cego ao redor de tudo, ignora absolutamente
tudo, um barulho, um olhar, tudo, foi o que aconteceu comigo, eu não ouvia que
o grito dela foi tão alto que chamou atenção de um monte de gente, não notei
todos olhando para mim, eu estava segurando uma caixa de fósforo em uma mão e um presente
dourado com a outra com a tentativa de esconder nas costas, também estava suando a beça... Realmente não estava na minha melhor forma.
-O que caralhos você quer falar garoto, olha o que você fez! Me molhou toda – ela não estava toda molhada pra inicio de conversa, eu só bati num copo com suco, não joguei a cachoeira nela.
-Eu queria te entregar isso e dizer...
Eu tinha entregado o presente pra ela e o olhar frio dela era como se... Na real acho que não quero falar essa parte, vou só continuar...
-Eu queria te entregar isso e dizer que... E dizer que eu sempre gostei de você e não sei se posso dizer isso, mas acho que foi amor a primeira vista, desde o primeiro ano eu te observo e cada vez que te olho sinto um conforto no coração, todos me dizem que você é má e tudo mais e eu sempre brigo com eles, como eles não podem ver como você é legal, gentil, confiante, destemida e... – nesse momento eu tinha entregado o presente e ela estava segurando ele com uma mão e com o copo de suco quase todo derramado com a outra, já eu, estava pegando o anel, me sentia livre como se pudesse dizer tudo, um sentimento impagável de liberdade – e... eu queria te entregar esse anel como prova do meu amor, adoraria que você aceitasse, Becca.
Eu me arrependo e me odeio por ter ajoelhado como se fosse
pedir ela em casamento, e Becca? Da onde aquilo saiu, era pra ser uma apelido
legal e carinhoso? Tá, Becca não é um apelido ruim, mas a forma que eu disse não foi das melhores, mas dava pra relevar.
-Becca? – Rebecca estava com um olhar de nojo e meio frio olhando pra mim, me olhando de cima pra baixo pensando "Isso se apaixonou por mim?", okay... Eu não sou tão bonito assim, nem o cara forte e atlético, sou apenas eu, alto, magro e qualquer roupa fica larga em mim, em questão de moda não estou nada em dia, então mesmo com tudo isso não acho legal ela ter pensado isso, na verdade eu nem sei o que ela pensou por que não leio mentes, mas creio que era isso que ela pensou... To explicando coisa desnecessária, deixa eu focar... Certo... Ela pegou o anel e – Que lixo é esse pedaço de ferro, aposto que é latão...
-Não... Na verdade é...
-Fica quieto menino, se enxerga quem é você? Sei nem seu nome, você disse que me olha todo dia? Deus me livre pare de me olhar seu nojento, e pensar que ficava sendo olhada pra um nada como você, e sério? Um anel? Numa caixinha de... Que merda é essa caixinha, e presente num embrulho dourado? O que é isso um livro de como ser uma boa esposa?
Realmente o anel não foi boa ideia, droga, se não fosse o anel tinha chance de dar certo...
- Nunca mais fale comigo, nunca olhe pra mim eu fico com ânsia de vomito só de pensar que um garoto como você gosta de mim, eca, que lixo – ela pegou o presente dourado e simplesmente soltou no chão, depois pegou o anel e olhou com uma olhar de “um pedaço de metal sem pedras preciosas? Sério?” e jogou ele na minha cara.
Eu fiquei ali meio que... Desculpa... Ainda não consigo expressar o que eu senti naquele dia, mas é algo que só de lembrar me embrulha o estômago, que sentimento...
Ela logo depois disso tudo pegou o suco e virou na minha cabeça dizendo “olho por olho, dente por dente”
Uma coisa inexplicável que eu consigo explicar é que eu queria muito entrar dentro de um buraco e sumir dali, mas eu estava tão, tão abalado que simplesmente não conseguia encontrar um “buraco” para me esconder, agradeço muito ao Alex eu acho, não tenho certeza se era ele que me levantou dali e me levou pra um lugar mais escondido, eu simplesmente não estava vendo nada, só conseguia escutar os risos e gente dizendo “Coitadinho dele”.
Depois eu não sabia quanto tempo tinha passado mas pra mim era muito tempo, a minha irmã tinha chegado com uma toalha em mãos, e juro que pensei que ela riria de mim como prometeu, foi o contrário, ela pediu para meus amigos nos deixar sozinhos e ela secou meu cabelo em pleno silêncio, sem esboçar nenhuma emoção de felicidade e nem de piedade, não sei como mas acho que precisava daquilo naquele momento, tanto que mesmo com tamanha infelicidade em meu coração eu não conseguia chorar nem falar nada, foi só com minha irmã por perto que consegui aliviar um pouco desse sentimento.
-Você estava certa, eu não devia ter feito isso...
-Não se culpe, você fez o seu melhor, só que ela não reconheceu...
-Eu não devia ter feito, devia ter pegado esse sentimento feliz e enterrado junto com muitos outros, assim poderia viver sem essa humilhação...
-Art, não fala nada, apenas... apenas...
Acho que nem ela conseguia expressar seu próprio sentimento, naquele momento a face neutra se quebrou, ela estava com uma cara triste e com uma dose de culpa, eu não sei exatamente o por que dela se culpar, mas eu senti que era melhor não falar nada, e lá ficamos o resto do intervalo, ela acariciando meu cabelo semi seco enquanto eu ficava triste olhando pra parede.
O restante do tempo da escola também não foi muito bom, Alex e Mia me olhavam com cara de pena e raiva ao mesmo tempo pelo que a Rebecca fez, o pior disso é que a sala toda ficou comentando sobre isso e a Rebecca simplesmente ignorou todos e continuo conversando sobre seus assuntos corriqueiros, como se eu não estivesse lá e como se eu não existisse, nem um pingo de arrependimento, foi como se meus sentimentos estivessem recebendo uma facada dela, e ela nem sequer olha enquanto assassina meus sentimentos, um sensação verdadeiramente ruim...
Sei que não fiz nenhuma lição de nenhum professor, e que também não lembro como cheguei em casa, mas cheguei, e quando vi minha cama foi como se uma minúscula felicidade surgisse com uma vontade de finalizar aquele dia e começar outro como se nada tivesse acontecido, mas não foi bem assim...
Eu tive um momento meio reflexivo, onde tomei um banho de sei lá, algumas horas, e quando sai estava com um pouco de determinação para que quando dormisse tudo ia mudar, eu iria virar a pagina, um dia de cada vez até essa página estar tão longe que nem sequer lembre dela.
Foi então que fui até minha cama e tentei dormir, mas antes de dormir eu comecei a ver o local que estava todos esbranquiçado, como se tivesse sumindo, foi então que pulei da cama e cai dela com uma dor de cabeça terrível, eu não conseguia ver quase nada pois tudo estava girando para mim, a dor de cabeça era tanto que sentia meus olhos doendo, nunca havia sentido aquela dor, uma referencia para homens deve ser levar um chute no saco, agora pensa que o sapato que te chutou tem agulhas, essas agulhas acertaram em cheio, essa dor era o que eu estava sentindo, com muita demora ela foi passando, e meus sentidos foram voltando, eu lembro que depois de um tempo notei que minha camisa estava um pouco rasgada, eu estava todo suado e algumas coisas ao redor de mim estavam no chão, tinha uma fotografia que ficava ao lado da minha cama que caiu no chão e o vidro quebrou, e vendo tudo isso eu notei que meu quarto estava muito claro, muito mesmo, olhei pra janela e o sol estava lá acabando de nascer, pensei que poderia ter desmaiado ali e ficado assim a noite toda, mas o destino não é legal, quando ele te bate, não é com palmadinhas, é com os piores tapas da sua vida, tão forte que fica cravado na essência de seu ser, eu olhei para o relógio e lá estava “Quarta- Feira, 08:03”, eu nem sequer acredito que a premonição mais longa que tive foi do pior dia de minha vida, o pior não é nem isso, de todas as premonições que tive e tentei fazer o oposto para evitar, nenhuma teve uma mudança, tudo sempre acontece como deve acontecer, o destino apesar de versátil o final é inevitável... Agora me diz, como conseguirei ter o mesmo dia novamente? Ha ha, até parece, dessa vez irei mudar o destino, não vou ser rejeitado de novo por nada nesse mundo!
[Continua]
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