Capítulo 5: Invadindo uma casa, depois um sonho e, depois uma Torre!
-Por que??!!! Por que tudo isso????
Ramona retirava dois paninhos dos bolsos enquanto eu gritava histericamente. Calmamente, ela fingia que não estava conseguindo deduzir qual era minha dúvida.
- Por que raios você acordou no meio da noite e achou que isso tudo seria uma boa?!! É algum tipo de punição por eu estar fazendo exatamente o que você queria que eu fizesse???
Ela se mantém calma.
- Você é muito desesperado as vezes.
Ela disse enquanto me dava um dos dois panos. Ela dobrou o que ficou com ela e apertou ao nariz e a boca com a mão direita. Fez um sinal para que eu entendesse, e, logo depois, antes que eu pudesse voltar a me desesperar Ramona continuou:
- A alta atividade cerebral de um sono REM pode causar danos aos Sandman que tentam usar essa "janela" para adentrar. Eu preciso que você esteja com a atividade cerebral em pico para que a possibilidade de algo assim acontecer diminua o máximo possível.
Eu ainda estava conectando as informações no meu cérebro enquanto Ramona virava sua atenção para a porta. Quando finalmente entendi, parte da raiva daquele momento passou, mas a maioria ainda estava lá.
- Você precisava que meu cérebro estivesse sob forte estresse para que minha atividade cerebral aumentasse.
Eu afirmei e, pude ouvir Ramona exclamar "bingo!" Pouco antes de chutar a porta e derruba-la com um barulho alto.
-Mas... Pra falar a verdade eu apreciei cada momento.
Vasculhamos a casa por alguns minutos, Ramona dizia que era bom fazer isso para conhecer os clientes melhor, reunir o máximo de informações sobre ela poderia vir a ser muito útil uma vez que entrássemos na cabeça dela. Enquanto eu perambulei pela cozinha, apreciei por alguns minutos fotos de Rosa coladas na geladeira. No aniversário de 6 anos, ela já tinha se apaixonado por leões pelo visto, a casa estava decorada com imagens mal imprimidas do filme Rei Leão e, seu rosto e os dos pais estavam pintados, também imitando o felino. Enquanto vasculhava aquelas fotos de aniversários passados, não pude deixar de notar que as fotos eram sempre tiradas com os pais dela. Mesmo nas fotos de sua infância, não haviam outras crianças além dela nas fotos. Quando refleti comigo mesmo, lembrei de não ter visto Rosa conversando ou interagindo na escola quase nunca. Eu ainda precisava checar o diário, mas entendi que, talvez Rosa se sentisse verdadeiramente sozinha as vezes.
Ramona cruzou a cozinha e me deu alguns toques sutis no ombro, apontou para a sala que eu passei em total descaso antes de chegar na cozinha. Não vi nada de interessante naquela sala de estar, apenas dois sofás e uma televisão comum, passei por ela assim que entrei e ignorei-a quase que instintivamente.
-Achei o quarto dela, seu imbecil.
Minha irmã não se deu o trabalho de falar baixo. Coloquei o indicador nos lábios e sinalizei para que ela falasse mais baixo. Ramona revirou os olhos calada e saiu andando da cozinha, fazendo apenas um sinal com a mão para que eu a seguisse. Passamos pela sala e subimos escadas que estavam nos esperando no canto, quando chegamos ao primeiro andar, Ramona apontou para a porta que estava a nossa frente enquanto a escada continuava sua jornada ao lado. Apontei para a porta com o indicador e fiz uma expressão de confusão, Ramona entendeu e fez que sim com a cabeça. Ali era o quarto de Rosa. A maçaneta parecia estar prestes a me morder quando eu aproximava a mão dela. Sentia aquele medo gélido e um nervosismo que, a essa altura, eu já deveria ter me acostumado. Quando abri a porta, tive certeza que meu pico de estresse não poderia estar mais alto. Fechei a porta e, Ramona gargalhou.
-Eu te odeio.
Disse contido e, Ramona respondeu:
-Viu o "piupiu" do sogrão foi????
Ramona continuava rindo enquanto eu subia as escadas. Pelo menos alguém tinha se divertido naquela noite. Quando cheguei no quarto acima, no último andar, abri a porta de imediato por estar estressado demais para nervosismo. Não há nada que vença a timidez como a raiva. Mais uma vez meus movimentos ficaram mais calmos, isso porque finalmente tinha visto Rosa. Usava um pijama rosa com listras roxas, e estava encolhida na cama, por um instante pensei que havia espaço suficiente para mim deitar ao lado dela e, ver aquele dourado bonito dos cabelos de Rosa se espelharem pela cama. Até mesmo aquela pouca saliva que escorria de sua boca para o travesseiro me remetia beleza. Um momento de inocência e pureza foi interrompido por um tapa que levei na nuca.
- Nunca entre no quarto de uma garota assim tão bruscamente!
De todas as coisas erradas que ela já tinha dito e feito, aquela foi a primeira vez que Ramona tinha razão.
-Ok. Você já me viu fazendo, sabe como rola né?
Ramona foi direto ao ponto e eu senti um frio subir pela minha barriga enquanto pensava.
-S-sim...
Meus ombros ficaram tensos e cada músculo do meu corpo se enrijeceu enquanto eu encarava a garota dos meus sonhos dormir como um anjo. Meus joelhos voltaram a tentar se encontrar e minhas mãos voltaram a soar, mais intensamente que nunca.
- Beleza, vamos nessa.
- Esp- espe... Espera!!!
Soltei um grito contido e abafado, até minhas cordas vocais tremiam.
- D- deixa só... Só eu m-me acalmar um p-pouco...
- Pra quê? Pra sua atividade cerebral diminuir?
Percebi que tinha me esquecido desse detalhe, mesmo soando e beirando a gagueira, resolvi questionar.
-Q-quais são, exatamente... O-os.. os e-efeitos danosos?
- Seu cérebro derrete.
Analisando friamente, hoje percebo que aquilo era obviamente mentira, mas, naquele momento eu não conseguiria pensar assim nem em mil anos. Por sorte, eu ainda me lembrava do ritual que Ramona sempre fazia para conseguir adentrar os clientes/ vítimas. Encostei o dedão soado na testa de Rosa e percebi que ela se incomodou, fechei os olhos com força e, juntos, Ramona e eu contamos até 3. Quando notei, já não estava no mundo real mais.
Estava em um mundo borrado, onde meus sentidos pareciam abafados e embasados para mim. Me sentia estranho, e conforme minha visão clareava eu podia enxergar flores, coloridas e belas, espalhadas pelo chão e pelo ar também. O ambiente a minha volta ganhava nitidez cada vez mais lentamente, até que parecesse ter parado numa vista clara o suficiente. Centenas dessas flores se espalhavam num campo Verde e bonito. O azul do céu era extremamente puro e calmo, contrastando com o vermelho das rosas que flutuavam sem explicação por aí. Até os sonhos dela me deixavam apaixonado. Do horizonte Ramona surgiu, pisoteando as flores e falando coisas estranhas para si mesma.
- Então...
Interrompi ela, quando finalmente se aproximou suficiente.
- E agora?
Ramona me olhou nos olhos e parecia estar séria.
- Ela está tendo um pesadelo, isso é ruim.
Olhei ao redor, senti o cheiro das rosas que me lembrava o cheiro da Rosa. Encarei o céu azul e vi uma nuvem em formato de leão que repousava acima da minha cabeça.
- Não se parece com um pesadelo para mim.
- Isso porque caímos no lugar errado.
- E onde deveríamos ter caído?
Ramona aponta para algum lugar ao Sul. O único lugar dali que não me lembrava em nada Rosa. Nuvens negras e raios caiam ali, eu nem sequer havia notado antes.
- As vezes, caímos no lugar errado.
Ramona explica enquanto começa a andar em direção as nuvens negras.
- Normalmente isso acontece quando tem dois viajantes entrando no mesmo cérebro, fico até surpresa que não tenhamos caído mais longe.
Eu relutei um pouco antes de seguir a Ramona, mas pensei um pouco em Rosa por um momento e, calmamente fiz algumas perguntas.
- A Rosa está lá? Ela pode estar sofrendo com esse pesadelo? Podemos acorda-la? Melhor, podemos faze-la ter um sonho maravilhoso? Um sonho comigo talvez??? Podemos fazer ela se apaixonar por alguém daqui??????
- Calma lá parceiro.
Ramona me interrompeu com um tapa forte na testa.
- Normalmente poderíamos acorda-la, mas graças ao sonífero, isso não vai rolar.
Encarei Ramona em desaprovação e ela ignorou.
- Eu poderia transformar esse pesadelo em um sonho maravilhoso, se ela não estivesse em estado de sono REM.
Encarei o chão pensando. Pensei em diversas alternativas. Talvez pudéssemos...
- Você realmente seria doente a ponto de alterar o psicológico de uma garota apenas para ela se apaixonar por você?
- Podemos trazer ela pra cá? Esse parece ser um espaço bem pacífico.
Eu tentei não responder a pergunta de Ramona e ela obviamente notou, mas deixou essa passar. Olhou para as nuvens negras e, depois, fitou o gramado. Estava pensando em algo.
- Quero dizer, não faz sentido. Se isso é um pesadelo então porque a mente dela criaria essa área tão utópica?
- As vezes temos sonhos que se tornam pesadelo. Nesse caso, a "área" em que estávamos na parte boa do sonho demora um pouco a sumir. Podemos tentar trazê-la para cá, mas não será fácil, e não teremos muito tempo.
Eu sorri de orelha a orelha, era um conto clássico de príncipe salvando a princesa do dragão mal. Mas, uma última dúvida me veio.
- Por que pode ser perigoso?
- Porque, tem um dragão ali.
Quando Ramona apontou para a frente, notei uma torre alta que transpassava as nuvens escuras, atraia raios e... Mais um pequeno detalhe: tinha um dragão escorado nela, cuspindo fogo por aí. Eu ainda estava longe mas já podia ouvir Rosa gritando "ISSO NÃO FAZ NENHUM SENTIDO BIOLÓGICO!!!!" Aquela história de príncipe salvando a princesa do dragão estava começando a ficar literal demais.
- Não estou vendo ela.
- Ela deve estar no último andar.
-Que maravilha.
Observamos a torre, sem saber o que fazer.
[Continua]
--Créditos--
Autor: Rudigu
Co-Autor: L.Maverick
Divulgado por: Mistérios Nerd
--Leia mais--
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5 Comentários
Prefiro o filme 😡
ResponderExcluirSairá em breve, estamos no planejamento kkkkkk
ExcluirO Hype, só aumenta
ExcluirEsse escritor é uma lenda, merece pika demais
ResponderExcluirLivro excelente do grande escritor niilista
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